quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Por que um blog?

Quem me conhece sabe que sou um homem de comunicação. Iniciei no rádio, já escrevi para jornais, estive na TV, para onde voltei recentemente, e agora me aventuro (com relativo atraso) pela internet. Por isso, criei esse blog.
Mas, de que adiante falar, dizer e escrever se não houver a certeza de que estamos sendo ouvidos e lidos? A interativadade é fundamental. É o alimento, o ânimo para continuar e a força que mantém viva a criatividade.
No nosso bate blog, espero manter contato diário com você. "Ouvir" sua opinião, obter o seu retorno. Ah, ressalto logo que aqui não vamos ter as tão populares abreviações ou as palavras estranhamente escritas da nova grafia do internetês. Faço questão de escrever como aprendi nos livros. Se estiver cansado ou com preguiça, não escrevo!
Voltando ao bate blog, quero usar esse espaço para contar algumas passagens curiosas das minhas muitas andanças pelo Interior de Pernambuco. Como, por exemplo, essa...

E Tenho Dito

Em 1982, Marco Maciel renunciou ao Governo do Estado para se candidatar a uma vaga ao Senado Federal. Assumiu o comando o vice-governador José Ramos. O candidato da situação ao Governo era Roberto Magalhães, que ao final venceu a eleição. Na fase de pré-campanha, José Ramos aproveitava as inaugurações para lançar, de maneira indireta, Maciel e Magalhães, que sempre o acompanhavam durante seus périplos pelo Interior.

O palácio organizou uma agenda pesada para uma sexta, sábado e domingo, cobrindo nada menos que quinze municípios com inaugurações e concentrações públicas. Nessa época, eu era o locutor oficial do governador e viajava com a comitiva. Na sexta-feira percorremos os municípios de Cachoeirinha, Lajedo, São Bento do Una e Calçado, tendo o último "comício" terminado por volta da meia-noite. Depois a comitiva pernoitou em Arcoverde, no Hotel Magestic, onde todos se recolheram às duas da manhã. Apesar do dia ter sido tão longo, ficou determinado que às sete da manhã todos deveriam estar no salão de refeições para o café da manhã.

O governador José Ramos se excedera no almoço e no jantar, sendo acometido de uma crise de vesícula ainda duranto o comício. Apesar de medicado, passou uma noite péssima, sem pregar os olhos. Sequer tomou café e embarcou no ônibus visivelmente mal humorado. Partimos para Paranatama, onde às nove horas estava marcada a inauguração de uma agência do Bandepe.

Durante o percurso, José Ramos permaneceu calado e percebia-se, de vez em quando, o seu rosto se contrair com as dores. Ao chegar, antes de descer do ônibus, o governador me chamou e deu a seguinte ordem:

- Olha Walter, aqui só falam eu e o prefeito e mais ninguém. Já falei com Marco e Roberto que não estou me sentindo bem e que vamos demorar muito pouco nesta inauguração. E você trate de não falar muito. E é só!

Recebi a ordem e fui direto para o Bandepe, onde fui o mais sucinto possível na solenidade. Apesar do frio e da chuva, o prefeito levara muita gente para a inauguração. Seguindo a ordem, anunciei imediatamente a palavra do prefeito, que iniciou o seu discurso:

- Excelentíssimo senhor governador, senhor Marco Maciel, futuro senador. Dr. Roberto Magalhães, futuro governador. Deputado fulano, deputado beltrano, senhoras e senhores.

Dizendo isso, tirou do dolso do paletó um calhamaço de umas doze páginas com o discurso dele escrito. Quando se preparava para ler, José Ramos, mais do que depressa, arrancou as laudas das mãos do prefeito, que ficou estático e sem saber o que estava acontecendo. José Ramos disse, então, ao perplexo orador:

- Deixe que o discurso eu leio em casa!

Completamente atordoado e sem ter o dom do improviso e ainda sob o impacto do gesto do governador, olhou para a platéia, onde só alguns conseguiram conter o riso e disse laconicamente:

- É, minha gente... É.. É... E tenho dito!

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