Como disse na primeira postagem, vou me dedicar a narrar aqui algumas situações que presenciei nas minhas andanças pelo Interior de Pernambuco. Essa agora é sobre um colega jornalista.
O Caloteiro
Na campanha política em que Gustavo Krause enfrentou o mito Miguel Arraes aconteceu de tudo. Era uma luta desigual de Davi contra Golias: não tinha transporte, não tinha dinheiro e faltava o povo nos comícios. Krause, com altivez e dignidade, aceitou a missão e a cumpriu com serenidade e sem reclamar. O coordenador da campanha do PFL foi Anchieta Santos, que precisou competência para administrar uma jornada inglória ao lado de um candidato olímpico. Todos que formavam o staff compreendiam a pobreza da campanha e foram complacentes com as dificuldades.
Entre os integrantes da equipe de apoio estava Jeison, o fotógrafo. Profissional competente, apesar da pouca idade, Jeison tinha o hábito de ser boêmio e depois de terminar os trabalhos do dia, saía procurando lugar para se diverir e só chegava ao hotel de madrugada.
Como toda campanha política é uma autêntica maratona, para em curto espaço de tempo cobrir o maior número de municípios possível, a jornada começava logo cedo. Todos deveriam estar à postos logo às sete da manhã. Mas todo dia era um drama para acordar Jeison, que sempre atrasava o primeiro compromisso do candidato. Quando aparecia, estava em péssimo estado e ficava cochilano pelos palanques.
Anchieta tentou convencer o fotógrafo a não agir dessa maneira, mas não tinha jeito. Como não havia tempo e dinheiro para contratar outro, era continuar com o rebelde até o fim, cujo privilégio gerou protestos de outros membros da equipe, que resolveram pregar uma peça no boêmio dorminhoco.
Em Serra Talhada, Krause realizou um grande comício. Após o evento, todos seguiram para o Hotel das Palmeiras, local escolhido para hospedar a comitiva. Como não havia acomodação para todos, parte ficou alojada num motel que ficava defronte ao hotel. Lá ficaram cerca de dez pessoas, incluindo o fotógrafo Jeison. Depois de acertar o valor por telefone, Anchieta entregou o dinheiro a um dos que dormiriam no motel para o pagamento na manhã seguinte.
Acontece que, depois do comício, Jeison logo se enturmou e esticou a noite numa festinha, chegando ao motel por volta das quatro da madrugada. O pessoal, então, preparou o castigo. Como partiriam para Triunfo às sete da manhã, acordaram cedo, retiraram a bagagem e informaram ao responsável pelo motel que o pagamento seria feito por Jeison, que ficou dormindo no quarto número dez, sem um tostão. Ainda comentaram com o gerente que ele tinha o hábito de dar o cano nos hotéis por onde passava.
Lá pela dez da manhã, o "educado" gerente acordou Jeison com pancadas na porta dizendo para ele deixar o quarto em dez minutos ou teria que pagar mais uma diária. Meio atordoado e sem entender o que estava acontecendo, o farrista levantou cambaleando e foi tomar um banho para enfrentar mais um dia de trabalho. Dando por falta dos companheiros de quarto, Jeison conferiu a hora e ficou apavorado. Apressado, se dirigiu ao estacionamento e já ia quase saindo quando o gerente lhe perguntou com "delicadeza":
- Ei cabra, pra onde tu vai assim sem pagar a conta?
E, lembrando da recomendação dos outros hóspedes, adiantou:
- Num vem com enrolada não e paga logo a conta. A tua e a dos outros, que eu sei que eles deixaram o dinheiro com tu!
O pobre Jeison ficou ainda mais amarelo e disse apavorado:
- Que dinheiro? Eu sou fotógrafo de Gustavo Krause e quem paga tudo é Dr. Anchieta. Eu não tenho nem dez centavos aqui, moço!
O gerente chamou dois empregados, que seguraram Jeison e o levaram para a delegacia, denunciando o calote. Ele ficou detido até a comitiva voltar de Triunfo e pagar a hospedagem. O coitado do fotógrafo, chorava feito menino e, explicada a brincadeira, nada foi registrado. Depois do susto, o moço prometeu nunca mais dormir em serviço, acabou com a vida de boêmio e terminou a campanha em que o candidato perdeu mas ele ganhou: aprendeu a ter pontualidade nota dez.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
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