Marco Maciel tem no trabalho sua principal diversão. Durante a semana trabalhava dezoito horas por dia no Palácio do Campo das Princesas e nos sábados e domingos viajava para o interior a fim de inaugurar obras.
Num domingo à tarde, aproveitando a presença em Pernambuco do saudoso Aloísio Magalhães, resolveu inaugurar o Mercado das Artes, em Tracunhaém, grande celeiro de ceramistas. Com a presença de grande público e por ser ano de eleição, o então prefeito sugeriu que os discursos acontecessem num palanque previamente armado junto à igreja matriz, o que não agradou ao pároco local, notoriamente engajado aos movimentos operários e ligado ao então recém criado PT. Depois de muita negociação, ficou acertado que o ato terminaria às dezoito horas para não comprometer a missa.
Católico praticante, mas não muito afeito a horários, o governador chegou ao palanque quando faltavam quinze minutos para às seis da noite. O padre da cidade reuniu todas as beatas na igreja e assentou-se ao lado altar, conferindo o relógio de instante em instante.
Marco Maciel, visivelmente nervoso, determinou que só houvesse dois discursos - o dele e o do prefeito. Eu, que era o locutor do governo na época, anunciei imediatamente a palavra do prefeito, que era quase completamente careca e usava um bigodinho tipo zorro, tingido de preto ritinto, que o transformava numa figura caricata. Vendo a multidão na praça, o prefeito aproveitou para fazer apologia da sua administração e se demorava cada vez mais. Nervoso, Maciel apertava os dedos das mãos e pressionava o queixo. Carlos Lapa, político da região, sentindo o drama, disse no ouvido do prefeito:
- Seja breve e elogie o Governo!
Diante da advertência, o prefeito mudou o teor do discurso:
- Meus amigos, quero aproveitar para agradecer a esse homem esquelético de pescoço comprido...
Ao meu lado o governador retrucou:
- Magro sim, esquelético não!
O prefeito continuou:
- ... Esse governador que trabalha dezoito horas por dia e nas caladas da noite vai tirar dinheiro em Brasília...
Marco Maciel virou-se para Aloísio Magalhães e disse:
- Pronto, agora virei ladrão!
Todos no palanque riram e o prefeito, sem graça, encerrou o discurso.
Sentado no altar, o padre esboçou um risinho com gosto de vingança.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
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